sábado, 19 de junho de 2010

DEZ PERGUNTAS SOBRE SEMIÓTICA

1. O que é semiótica?

Semiótica é a doutrina formal dos signos.

Cf. Charles Sanders Peirce, 2.227.

"O nome semiótica vem da raiz grega semeion, que quer dizer signo." "Semiótica, portanto, é a ciência dos signos, é a ciência de toda e qualquer linguagem." (p.7) "A Semiótica é a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno de produção de significação e de sentido." (p.13)

Santaella, L. (1983). O que é Semiótica. São Paulo: Brasiliense.

"A Semiótica peirceana não é uma ciência aplicada, nem é uma ciência teórica especial, ou seja, especializada." A Semiótica, ou lógica, "é uma ciência formal e abstrata, num nível de generalidade ímpar". (p.43)

Santaella, L. (1992). A assinatura das coisas. Rio de Janeiro: Imago.

"Semeiotica ou lógica ‘é a ciência das leis necessárias gerais dos signos’ (2.39) e está especificamente preocupada com a relação dos fenômenos para com a verdade." (pp.2 e 3)

Liszka, J.J. (1996). A General Introduction to the Semeiotic of Charles Sanders Peirce. Bloomington and Indianapolis: Indiana University Press.

"Semiótica é a ciência dos signos e dos processos significativos (semiose) na natureza e na cultura." (p.17) A Semiótica, como teoria geral dos signos, tem a sua etimologia do "grego semeîon, que significa ‘signo’, e sêma, que pode ser traduzido por ‘sinal’ ou ‘signo’." (p.21)

Nöth, W. (1995). Panorama da Semiótica: de Platão a Peirce. São Paulo: Annablume.

"Semiótica é o estudo ou doutrina dos signos, algumas vezes considerada como uma ciência dos signos; uma investigação sistemática da natureza, propriedades e tipos de signo..." (p.179)

Colapietro, V.M. (1993). Glossary of Semiotics. New York: Paragon House.

2. Quem foi Charles Sanders Peirce?

Charles Sanders Peirce (1839-1914), cientista, matemático, historiador, filósofo e lógico norte-americano, é considerado o fundador da moderna Semiótica. Graduou-se com louvor pela Universidade de Harvard em química, fez contribuições importantes no campo da Geodésia, Biologia, Psicologia, Matemática, Filosofia. Peirce, como diz Santaella (1983: 19), foi um "Leonardo das ciências modernas". Uma das marcas do pensamento peirceano é a amplição da noção de signo e, conseqüentemente, da noção de linguagem.

Peirce "foi o enunciador da tese anticartesiana de que todo pensamento se dá em signos, na continuidade dos signos" (p.32); do diagrama das ciências; das categorias; do pragmatismo.

Santaella, L. (2001). Matrizes da Linguagem e Pensamento. São Paulo: Iluminuras.

"Ao morrer, em 1914, Peirce deixou nada menos do que 12 mil páginas publicadas e 90 mil páginas de manuscritos inéditos. Os manuscritos foram depositados na Universidade de Harvard. Apenas vinte anos mais tarde, na década de 1930, surgiria a primeira publicação de textos coligidos nos seis volumes dos Collected Papers, editados por Hartshorne e Weiss. Infelizmente, grande parte dos textos aí coligidos restringiu-se a escritos que Peirce já publicara em vida. (...) Nos anos 1950, Burks acrescentou os volumes 7 e 8 aos Collected Papers, nos quais aparecem temas adicionais... tais como a filosofia da mente e algumas da principais correspondências de Peirce com Lady Welby onde estão expostas discussões importantes da teoria dos signos peirceana." (p.6) "...em 1976, sob direção de Max Fisch, estabeleceu-se na Universidade de indiana, com sede em Indianápolis, o Peirce Edition Project... sob os auspícios do National Endowment for the Humanities, para a publicação de escritos cronológicos de Peirce em 35 volumes" (p.7), tarefa que ainda hoje não foi terminada. Hoje o Peirce Edition Project está sob a direção de Nathan Houser.

Santaella, L. (1999). O estado da arte dos estudos sobre Peirce: um breve panorama. In Machado, F.R. (org.) Caderno da 2ª Jornada do Centro de Estudos Peirceanos. Editado pelo CENEPE-COS/PUC-SP.

3. Desde quando há estudos semióticos?

"A semiótica propriamente dita teve seu início com filósofos como John Locke (1632-1704) que, no seu Essay on human understanding, de 1690, postulou uma "doutrina dos signos" com o nome de Semeiotiké , ou com Johann Heinrich Lambert (1728-1777) que, em 1764, foi um dos primeiros filósofos a escrever um tratado específico intitulado Semiotik." (p.18)

Nöth, W. (1995). Panorama da Semiótica: de Platão a Peirce. São Paulo: Annablume.

4. Quando o termo "semiótica" começou a ser utilizado?

Inicialmente, encontramos esse termo na medicina. "O médico grego Galeno de Pérgamo (139-199), por exemplo, referiu-se à diagnóstica como sendo ‘a parte semiótica’ (semeiotikón méros) da medicina." (p.19)

Nöth, W. (1995). Panorama da Semiótica: de Platão a Peirce. São Paulo: Annablume.

"E apenas mais tarde é que os filósofos e lingüístas adotaram o termo para designar uma teoria geral dos signos." (pp. 12 e 13)

Nöth, W.(1985/1995). Handbook of Semiotics. Bloomington e Indianapolis: Indiana University Press. Traduação de: Handbuch der Semiotik.

5. Qual a diferença entre semiótica moderna, do século XIX e medieval?

Podemos dizer nas palavras do professor Nöth que a semiótica medieval desenvolveu-se no âmbito da teologia e do trívio das artes liberais (gramática, retórica e dialética).

No séc XIX, "símbolos e imagem são as noções centrais da semiótica" (p.55). Vemos o emergir das teorias moderna de significado, sentido e referência da semântica lingüística e o início do questionamento científico da linguagem.

Nöth, W. (1995). Panorama da Semiótica: de Platão a Peirce. São Paulo: Annablume.

O período moderno (século XX) é inaugurado por Edmund Husserl (1859-1938) com a sua teoria fenomenológica dos signos e significados. Não obstante, na história da semiótica moderna, Charles Sanders Peirce (1839-1914) é visto como uma das maiores figuras deste período, o fundador da teoria moderna dos signos.

Nöth, W.(1985/1995). Handbook of Semiotics. Bloomington e Indianapolis: Indiana University Press. Tradução de: Handbuch der Semiotik.

6. A semiótica é um método ou um ponto de vista?

Esta questão é bastante controversa entre os pesquisadores. Para conhecer as opiniões diversas, recomendamos a leitura do capítulo 2: "Semiótica: método ou ponto de vista?" em Deely, J. (1990). Semiótica Básica. São Paulo: Ática.

7. Quais são os "tipos de semiótica"?

Semiótica peirceana (Peirce)

Foco de atenção: universalidade epistemológica e metafísica. Nas palavras de Santaella: "uma teoria sígnica do conhecimento que busca divisar e deslindar seu ser de linguagem, isto é, sua ação de signo" (p.14, op.cit).

Semiótica estruturalista/Semiologia (Saussure; Lévi-Strauss; Barthes; Greimas)

Foco de atenção: signos verbais.

Semiótica russa ou semiótica da cultura (Jakobson; Hjelmslev; Lotman)

Foco de atenção: linguagem, literatura e outros fenômenos culturais, como a comunicação não-verbal e visual, mito, religião.

Nöth, W.(1985/1995). Handbook of Semiotics. Bloomington e Indianapolis: Indiana University Press. Traduação de: Handbuch der Semiotik.

8. Por que há vários tipos de semiótica?

As "semióticas" se voltam à investigação de signos e/ou significação. O que diferencia um tipo de semiótica de outro é a concepção e a delimitação de seu campo de estudo. Assim, essa variedade foi construída à medida que os estudos divergiam em seus pressupostos.

9. Qual é a diferença entre semiótica e semiologia?

Resumidamente: a Semiologia, também conhecida como a Lingüística saussureana, é ciência da linguagem verbal, e a Semiótica é a ciência de toda e qualquer linguagem.

"Semiótica é usado para se referir à tradição filosófica da teoria dos signos desde Peirce, enquanto que a semiologia se refere à tradição lingüística desde Saussure". (p.14)

Nöth, W.(1985) 1995. Handbook of Semiotics. Bloomington e Indianapolis: Indiana University Press. Tradução de: Handbuch der Semiotik.

A tradição semiótica de Poinsot, Locke e Peirce difere-se da semiológica proposta por Saussure porque a semiótica "não tem como princípio ou quase exclusiva inspiração a fala e a língua humana. Ela vê na semiose um processo muito mais vasto e fundamental envolvendo o universo como físico no processo da semiose humana, e fazendo da semiose humana uma parte da semiose da natureza." (...) Semiótica e semiologia constituem duas tradições ou paradigmas, o que tem "até certo ponto prejudicado o desenvolvimento contemporâneo por existir dentro dele em condições sociológicas de oposição. Essas condições de oposição, todavia, não são apenas desnecessárias logicamente, mas dependem para seu sustento de uma sinédoque perversa pela qual a parte é tomada erradamente pelo todo. A semiótica forma um todo do qual a semiologia é uma parte." (p.23)

Deely, J. (1990). Semiótica Básica. São Paulo: Ática.

10. Em que campos pode trabalhar um(a) semioticista?

Como a semiótica se presta ao estudo dos mais variados tipos de linguagem e significação, um(a) semioticista pode atuar nas mais diversas áreas, como comunicação de um modo geral; publicidade e propaganda, especialmente quanto à análise e desenvolvimento de marcas; biologia, como pesquisador(a) dos processos de comunicação celulares, por exemplo; tecnologias da informação etc. Enfim, todo e qualquer campo que envolva o estudo e/ou a aplicação de processos/técnicas comunicacionais.

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